Há 26 anos, Eliane Maio estuda e ministra palestras em busca de discussões mais efetivas acerca da educação sexual na escola
Por Murilo Benites
Em 1984, Eliane Rose Maio Braga, então estagiária do quinto ano do curso de Psicologia da UEM em um colégio particular de Maringá, foi abordada por uma professora da segunda série do ensino fundamental, que lhe pedia ajuda para resolver um problema com um menino de oito anos que “não tirava a mão daquele lugar.” Na ocasião, Eliane ficou sem saber como ajudar e nem mesmo o que responder, pois não tinha idéia de como lidar com a educação sexual. “Naquele dia, eu prometi a mim mesma que eu nunca mais iria parar de estudar isso”, conta.
Hoje, 26 anos depois, Eliane é professora do Departamento de Teoria e Prática da Educação da UEM e se transformou em um dos nomes mais importantes da educação sexual escolar do Paraná e do Brasil, sendo chamada para ministrar palestras sobre o assunto por todo o País. A professora agora cursa um pós-doutorado sobre a trajetória da educação sexual no Brasil, cumprindo à risca a promessa de nunca parar de lidar com o assunto.
No fim do ano passado, Eliane foi contemplada com uma bolsa de estudos na Espanha, por meio da Fundação Carolina (www.funcacioncarolina.es), uma instituição que promove as relações culturais e a cooperação educativa e científica entre a Espanha e os países iberoamericanos, bem como outros países que tenham especiais vínculos históricos, culturais ou geográficos com aquele país. Assim, entre novembro de 2009 e fevereiro de 2010, a professora desenvolveu, na Universidade de Alcalá, em Guadalajara, o seu projeto de pesquisa, intitulado Estudo sobre educação sexual e de gênero nos documentos oficiais, programas e nas aulas na realidade espanhola e desenho de um programa de formação para professores/as do Brasil.
Segundo Eliane, os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) do Brasil, elaborados em 2007 pelo Governo Federal, foram baseados nos parâmetros espanhóis, para servirem como referência de qualidade aos ensinos Fundamental e Médio do país, e preveem que a sexualidade seja um conteúdo trabalhado na escola. No entanto, em seu estudo, a professora comprovou que isso ainda não ocorre. “Aplicando questionários em alunos, fazendo pesquisas em documentos oficiais e conversando com profissionais que estudam a mesma temática, evidenciei que, apesar de os parâmetros terem sidos estabelecidos, a educação sexual ainda não é aplicada devidamente no ambiente escolar, tanto na Espanha como no Brasil”, afirma Eliane.
Experiência
A idéia, agora, é se utilizar dessas informações e experiências adquiridas na Espanha para aprofundar os estudos sobre como a educação sexual pode ser efetivamente abordada e discutida no ambiente escolar, o que não é uma tarefa fácil, já que, segundo a professora, esse não é um problema recente. “Não gosto de parecer pessimista, mas, em todos esses anos estudando o assunto, percebo que pouca coisa mudou. Hoje em dia, embora se estude e se produza muito material sobre o tema, são muito raros os casos em que se discute a educação sexual abertamente, nas escolas. Ainda há muitas barreiras”, explica Eliane.
Segundo a professora, o papel dela, como profissional da educação, é dialogar com professores, justamente para mudar essa realidade, auxiliando na maneira de inserir a sexualidade no contexto escolar e, ao mesmo tempo, estimulando o assunto para o aluno, desde as primeiras séries até a universidade, para que essa se torne uma temática natural e aberta a debates. “Não precisa necessariamente dar aula de educação sexual. A idéia é mudar o cotidiano, o contexto escolar, inserir a discussão no programa das disciplinas. Por que não analisar, por exemplo, o contexto da homossexualidade nas aulas de história?”, indaga.
Eliane afirma que ministra suas palestras sempre que há oportunidade, exatamente para divulgar a importância do ensino da sexualidade ao maior número de pessoas possível. “Dou palestra mais para professores, mas o importante é que eles estejam aliados com os pais, pois são eles que educam efetivamente”, aponta. Para ela, a maior dificuldade é provar para os pais e professores que a sexualidade se insere em qualquer contexto escolar “seja com palavrões nas carteiras dos alunos ou nos assuntos abordados em sala de aula”, conclui.
Projetos futuros
Para o próximo ano, a professora pretende promover a segunda edição do Simpósio Internacional de Educação Sexual (Sies), na UEM. De acordo com Eliane Maio, o primeiro Simpósio teve grande repercussão, debatendo assuntos como educação básica e diversidade sexual, vitimização sexual e sexualidade e educação sexual no Brasil. Além disso, será lançado o livro do Sies do ano passado.
Uma outra publicação também será produzida em breve, pela Editora da UEM (Eduem), baseada na tese de doutorado de Eliane, intitulada “Palavras, palavrões: um estudo sobre a repressão sexual com base na linguagem empregada para designar a genitália e práticas sexuais, na cultura brasileira.”
A professora também revela que acaba de conseguir uma verba da Fundação Araucária para que seja instaurado um Laboratório de Educação Sexual na UEM. “Pretendo fazer oficinas com os professores das redes estadual, municipal e particular, para discutir e aprofundar os estudos acerca da importância do ensino da sexualidade no âmbito escolar”, conta.
A professora também revela um sonho: criar um Observatório que focalize a violência de gênero, para denunciar, discutir e analisar quaisquer tipos de abusos sexuais.