Expo de “Nevermind” em Londres. A gente esteve lá.

Por Murilo Benites

24 de setembro, 1991. Chega às prateleiras o segundo álbum do Nirvana, um tal Nevermind. Disco que botou o rock de novo nas rádios, que o levou de volta ao topo das paradas, que fez o mundo vestir flanelas com orgulho. Uma coleção de músicas que colocaram Seattle no mapa sonoro, abriram as portas para Pearl Jam, Soundgarden, Alice in Chains e para a última grande revolução da música: o grunge.
 
24 de setembro, 2011. Nevermind sopra as velinhas, completa 20 anos. Aqui em Londres, a um oceano de distância da Seattle de Kurt Cobain, o aniversário ganha um parabéns todo especial com “In Bloom: The Nirvana Nevermind Exhibition”.
 
Não faz muito que fiquei sabendo da exposição. Ela comemora os vinte anos do lançamento do clássico disco em meio a galerias de arte, lojas vintage, de discos, instrumentos musicais e peças colecionáveis. Em Brick Lane, rua moderninha ao leste de Londres. Uma breve consulta na internet, um amigo fã de Nirvana como companhia e Loading Bay Gallery here I go.
 
Descemos do metrô na movimentada estação de Liverpool Street, próxima a um dos maiores centros empresariais de Londres e do 30 St. Mary Axe, o famoso prédio em forma de bala (que, na verdade, nem parece muito uma bala). Na medida em que caminhávamos em direção a Brick Lane, os ternos e gravatas iam dando lugar a roupas mais cool. Saem os business man, entram os hipsters. Por conta das inúmeras ruelas que circundam a região – e que, pelo visto, vão além da compreensão do Google Maps -, rodei por um tempo. Perdido. Até me dar conta de que a exposição estava situada bem em frente à Rough Trade Records, a loja de discos da lendária gravadora londrina.

Na fachada da galeria, um grande pôster com a famosa capa de Nevermind (aquela do bebê nadando atrás de uma nota de dólar). Lá dentro, o som ambiente era um Nirvana e sua versão para “Jesus Doesn’t Want Me for a Sunbeam”, do Vaselines. Nas paredes, pilares e escadas, trechos de letras de músicas.
 
Estávamos entre os primeiros visitantes do dia e, após uma olhada geral, a primeira impressão foi de que há muito espaço pra pouca coisa. Apesar disso, a exibição traz algumas peças interessantes, como um pedaço do braço de uma das tantas guitarras quebradas por Kurt Cobain, um agasalho usado por ele em um ensaio para a revista Melody Maker e ingressos para apresentações da banda entre 30 de março e 4 de abril de 1994, véspera da morte de Kurt. Além dessas pequenas raridades, as mais observadas pelos fãs, alguns displays interativos. Em um deles, várias televisões exibem vídeos do Nirvana, cada uma delas com um fone de ouvido pra quem quiser curtir. Em outro, uma tela mostra em tempo real fotos enviadas por fãs via Instagram. Há ainda dois computadores disponibilizados pela Spotify, com uma lista grande de músicas que influenciaram o grupo. Aproveitei pra ouvir algumas coisas de bandas como Rites of Spring, The Raincoats, Scratch Acid e Swans.
 
Os outros itens que complementam a exibição são dezenas de fotografias (algumas inéditas) tiradas por Steve Gullick, Steven Duplo e Martyn Goodacre, discos, cartazes, revistas e memorabilia do grupo. Tudo reunido pela curadoria da mostra com a contribuição de fãs. Também foi montada uma réplica do set up do palco de uma apresentação realizada por Kurt e cia em 1991, no Paramount Theatre, em Seattle, a única do Nirvana filmada em película – muito em breve, será lançada na íntegra em DVD e Blu-ray. Apesar de visualmente bonito, estranhei um pouco a ideia. Não são os instrumentos originais, e sim réplicas da bateria Gretsch e da guitarra Fender.
 
O som ambiente, à essa altura, tocava “Smells Like Teen Spirit”, muito mais alto no fundo da galeria. Em um quartinho escuro, veja só, era transmitida a tal apresentação no Paramount Theatre prestes a ser lançada. Assisti às performances de “About a Girl”, “Polly”, “Breed”, “Sliver” e “Love Buzz”. Ao sair de lá, percebi um aumento no número de visitantes – de gente que, nos anos 90, provavelmente tinha os mesmos cabelos sem lavar, camisas de flanela e calças rasgadas de Kurt Cobain, Krist Novoselic e Dave Grohl a outros tantos que nem era nascidos quando Nevermind foi lançado.
 
Deixamos a Loading Bay Gallery, pensando e conversando sobre o que tinhamos visto e ouvido. A impressão é que, bem mais do que uma homenagem ao Nirvana e ao seu álbum mais importante, “In Bloom: The Nirvana Nevermind Exhibition” foi montada estrategicamente com o intuito (meio mascarado, ou nem tanto) de funcionar como ação de marketing para os lançamentos comemorativos que estão por vir: uma versão deluxe do disco e o DVD ao vivo. A grande sacada, talvez, tenha sido a escolha do Reino Unido para realizar tal mostra. Um dos lugares em que mais se consome CDs e DVDs em um mundo que busca, há 20 anos, algo tão marcante quanto Nevermind.