O desafio da inclusão social

Por Murilo Benites

Com origem no começo do século 20, o esporte adaptado para deficientes tornou-se um importante veículo de inclusão social, aprimorando as habilidades físicas e motoras das pessoas com deficiência, deixando-as mais independentes para a realização de atividades do dia-a-dia e aumentando a auto-estima.

Além da comprovada importância social, a prática desportiva para deficientes passou a adquirir grande relevância no âmbito profissional. São torneios de alto rendimento, nos quais se enfatizam as conquistas e a competição, mais do que as deficiências de seus participantes. Prova do crescimento dessa prática são os Jogos Paralímpicos, que, na edição deste ano, em Londres, bateram o recorde de participantes, com 4.200 atletas de 166 países.

Com o objetivo de fomentar o paradesporto, tanto como ferramenta de inclusão, como para a garimpagem de novos talentos, foi criada, no ano passado, a União Metropolitana Paradesportiva de Maringá (UMPM), que oferece condições para que seus atletas se destaquem nas competições municipais, estaduais, nacionais e internacionais. Todas as atividades desenvolvidas pela UMPM são realizadas em conjunto com o Departamento de Educação Física (DEF) da UEM, onde o professor Decio Roberto Calegari desenvolve o Programa de Atividade Física Adaptada (PROAFA). De acordo com o professor, a função do Programa é oferecer todo o suporte de estrutura física necessário para a prática dos esportes adaptados, além de envolver acadêmicos, que colaboram nas práticas desportivas.

Projeto

A UMPM passou a contar, em março desse ano, com o Projeto Clube Escolar Paralímpico, que dá ênfase à iniciação esportiva de crianças e adolescentes, de 6 a 21 anos, de Maringá e região. De acordo com Mariana Piculli, coordenadora do projeto e secretária da UMPM, o projeto, que é mantido pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), tem como objetivo promover o fomento e o desenvolvimento esportivo escolar dos futuros atletas paralímpicos do país.

A coordenadora do Clube Escolar explica que são desenvolvidas as modalidades: bocha, futebol de cinco, futebol de sete, goalball, natação, petra, polybat e tênis em cadeiras de rodas e de mesa. Segundo ela, a ideia é dar oportunidade para o maior número de crianças possível, visando à continuidade das equipes profissionais da UMPM e o desenvolvimento físico e motor dos jovens atletas, sem esquecer da inclusão social.

O Clube Escolar também costuma promover gincanas, em que são desenvolvidas atividades recreativas que lembram os esportes adaptados, mas sem competição. O intuito, além de oferecer um dia divertido e descontraído para as crianças, pais e amigos, é encontrar novos talentos em potencial.

Na última gincana, realizada em julho, na quadra do bloco M-7 da UEM, um atlético e animado Valdir André da Silva Júnior, de 20 anos, mostrava destreza em todas as atividades propostas. Portador de Síndrome de Down, e tendo a natação como especialidade, Valdir está há dois meses no Clube Escolar. O atleta, que já conquistou medalhas em competições escolares, possui boas habilidades físicas e motoras, pois, segundo a mãe, Carmem da Silva, pratica exercícios desde pequeno. “O envolvimento do Valdir com o esporte, com certeza foi fundamental no processo de desenvolvimento dele”, afirma. 

Esporte paralímpico no Brasil

O paradesporto é uma presença constante dentro das universidades, onde são desenvolvidos trabalhos específicos de extensão, como o da UEM, voltados aos portadores de deficiência. De acordo com o professor Décio Calegari, isso, aliado a uma gestão eficiente do Comitê Paralímpico Brasileiro, fez o paradesporto nacional evoluir, a ponto de figurar entre as dez principais potências paralímpicas mundiais.

Para o professor, o que falta é divulgação. “Precisamos que nossos valores sejam vistos. Mesmo com a qualidade do trabalho, é necessário que as pessoas enxerguem que existe o esporte paralímpico, para que ele sirva de exemplo e inspiração para outras pessoas”, afirma.

Segundo Décio Calegari, apesar de não ter como foco único o rendimento, o Clube Escolar tem como função justamente trazer a criança com deficiência para o esporte, já pensando na renovação de talentos. “O Clube acaba estimulando a pratica do esporte, e nisso você acaba identificando quem leva jeito e pode, futuramente, disputar competições paralímpicas”, explica.