Proposta é estudar aspectos representados em obras de artistas clássicos
Por Murilo Benites
O Museu da Bacia do Paraná (MBP) da UEM recebeu professores da Rede Estadual de Ensino Básico para participarem das atividades de encerramento das 7ª Primavera de Museus. O evento, realizado em outubro, em sincronia em todo o Brasil, sob a liderança do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), teve como temática as manifestações da cultura afro-brasileira.
Por aqui, foi denvolvida uma oficina, intitulada Cultura Afro-brasileira: fronteiras e espaços multiplicadores, oferecida pela mestranda do Programa de Pós-Graduação em História (PPH), Mariane Pimentel Tutui. Durante o evento, os professores da rede Estadual e Municipal de Maringá puderam conhecer mais sobre a obra do artista francês Jean-Baptiste Debret, cujas aquarelas, segundo Mariane, “pintaram o dia-a-dia dos escravos no Rio de Janeiro e em outros lugares do Brasil, entre 1816 e 1834”.
A oficina foi realizada como parte integrante de um projeto de cooperação ampla, em desenvolvimento na UEM, por meio do Museu da Bacia e no Centro de Estudos das Artes e Patrimônio (CEAPAC) da Universidade. A pesquisa, encabeçada pela professora do Departamento de História (DHI), Sandra Pelegrini, dedica-se a estudar obras e artistas clássicos que representaram, ao longo da história, as tradições e a cultura afro-brasileira, e repassar esse conhecimento para a comunidade, em forma de oficinas e exposições itinerantes, com o apoio da Caixa Econômica Federal.
Etnias
Segundo a professora, o estudo aprofundado dessas obras e artistas é uma parte fundamental na busca de uma “autêntica identidade nacional”. Sandra lembra que a cultura brasileira é fruto do hibridismo de várias etnias, e que, “por meio desse material histórico são ‘descobertos’ sujeitos e aspectos que foram fundamentais para formação da nossa sociedade”.
Entre os artistas estudados estão Heitor dos Prazeres, Djanira da Motta e Silva, Carybé, Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, Cândido Portinari e Cícero Dias, além de artistas paranaenses, que retrataram em diferentes momentos históricos as atividades dos negros em seu cotidiano. “A cultura afro aparece como centro dos interesses desses artistas. Seus costumes, modos de viver e sociabilidades, seu trabalho e religiosidade, suas festas e formas de lazer, sua força e sensualidade, foram vistos como fonte de inspiração”, relata Sandra.
No projeto, são realizados estudos sobre o histórico da vida dos artistas e sua respectiva formação, análises semióticas das obras, exercícios de releituras das obras e metodologias didático-pedagógicas relativas a historia visual das artes. Segundo a professora, “ainda são analisadas manifestações, como a capoeira, o jongo, a congada, o carnaval, tambor de crioula, samba tradicional e celebrações que, inclusive, são reconhecidas como patrimônio imaterial brasileiro pela Unesco, entre outros saberes e práticas populares”.
A metodologia utilizada e os resultados dos estudos são repassados aos professores do Ensino Básico, por meio das oficinas, para que, posteriormente sejam incorporados em suas aulas. Com isso, “os professores poderão evidenciar aos alunos a contribuição dos afro-descendentes para a formação da cultura tradicional popular e a desconstrução dos mitos que se criaram em torno das religiosidades e costumes que permanecem vivos na sociedade atual, além da valorização do patrimônio histórico e ambiental”, explica a professora.
Nos próximos meses, o projeto do MBP e CEAPAC continuará oferecendo oficinas e exposições itinerantes sobre a cultura afro-brasileira para comunidade, e segundo Sandra, deverá expandir ainda mais suas atividades. “Além de outros grupos de estudo da Universidade, convidamos os pesquisadores do Núcleo de Estudos Interdisciplinares Afro-Brasileiros (Neiab) da UEM para colaborarem”, conta. O objetivo é, futuramente, organizar arqueologias da arte afro existente na região, além de confeccionar pôsteres para as exposições itinerantes.