Por Murilo Benites
A grande maioria dos jovens nascidos a partir do final dos anos 1980, provavelmente acharia difícil viver sem computador, internet, celular, tocador de mp3, câmeras digitais... Certo? Quem veio ao mundo no final do século 20, teve a oportunidade de crescer e se desenvolver envolto nesse boom de inovação tecnológica e comunicacional dos últimos anos, o que facilitou sensivelmente o aprendizado e a forma de lidar com tantas modernidades.
Agora, imagine alguém mais velho, que, até bem pouco tempo atrás, sequer imaginava que hoje estaria cercado por essa grande quantidade de inovações. É natural que sua reação inicial seja de espanto e receio diante delas e da velocidade com que surgem. O conhecimento e o manuseio de tais tecnologias representem um processo mais complicado, não por falta de capacidade de aprendizado, mas sim pela necessidade de assimilação de algo que é uma súbita e completa novidade.
Nessa situação, existem dois tipos de reação entre os mais velhos: alguns deixam tudo isso pra lá e vivem perfeitamente bem, como o fizeram até pouco tempo atrás; outros preferem se interar, e extrair tudo de relevante que essas novas ferramentas podem oferecer e que, de alguma forma, possam melhorar e facilitar as suas vidas.
Na relação com o computador e com a internet, por exemplo, o que mais atrai a terceira idade, é a atualização com as notícias em tempo real e o contato com amigos e parentes distantes. Como já comentei na matéria “De cabeça na tecnologia” (Revista Zaz #60), minha avó, dona Mercedes, de 82 anos, nunca foi ligada a inovações tecnológicas, mas, no começo deste ano, ganhou um notebook do meu tio, que mora nos Estados Unidos, para que eles pudessem manter maior contato.
Depois de um começo conturbado, hoje ela já se entende melhor com o computador, tem e-mail e Skype, faz pesquisas no Google e acessa os principais sites de notícia on-line, de três a quatro vezes por semana. E para ela é o bastante. Minha avó se enquadra no grupo que resolveu (com um empurrãozinho, é verdade) utilizar a tecnologia a seu favor.
Isso suscita outro ponto interessante sobre a relação das pessoas de diferentes faixas etárias com a modernidade. Em algumas situações, é possível que, por terem “se virado” perfeitamente bem, por anos, sem todas essas inovações, os mais velhos saibam utilizá-las com mais parcimônia, sem depender unicamente delas. Eu explico: imagine, por exemplo, o desespero de um adolescente dos dias atuais que, de uma hora para outra, fosse proibido, permanentemente, de usar o celular ou o computador. A adaptação provavelmente seria mais difícil para ele do que para alguém de idade mais avançada.
Utilizando novamente a dona Mercedes como exemplo, posso narrar um caso curioso do qual fui testemunha. Lembro-me de um Natal em que ganhou dos filhos um aparelho celular. Sua relação com o aparelho não foi nada amistosa: muitas vezes, o esquecia em casa; quando o levava, ele nem sempre tocava, pois estava com a bateria descarregada; nas vezes em que a bateria funcionava, ela raramente ouvia o barulho do aparelho, cuidadosamente guardado, no fundo da bolsa. Acabou por dá-lo a um neto, e afirma não sentir a menor falta. “Tenho telefone em casa e cartão telefônico, caso precise ligar da rua. Não preciso de mais”, afirma ela. O inconveniente é que, muitas vezes, são os filhos que desejam falar-lhe!
É claro que este é só um exemplo, e que existem diferentes casos, com suas respectivas particularidades. Também é preciso levar em conta que, hoje em dia, muitas pessoas, obrigatoriamente, necessitam, por motivos profissionais, manter-se online e com o celular ligado praticamente 24 horas por dia. No entanto, também é verdade que a dependência excessiva da tecnologia que nós jovens estamos demonstrando hoje, pode acabar nos tornando escravos de algo que deveria ser apenas mais um instrumento do cotidiano. Acredito que o mais importante é ter os mais velhos como exemplo e utilizar as novas tecnologias sempre como uma ferramenta a nosso favor.